sexta-feira, 17 de julho de 2009

O FORRÓ EM DEBATE: LEGITIMIDADE, FALSIFICAÇÃO E QUALIDADE ARTÍSTICA


CRITICA DE ARIANO SUASSUNA SOBRE O FORRÓ ATUAL'
Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!'. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na
cachaça.
Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.
(Ariano Suassuna)

COMENTÁRIOS

Observação:O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de 'forró', e Ariano exclamou: 'Eita que é pior do que eu pensava'. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.Realmente, alguma coisa está muito errada com esse noss o país, quando se levanta a mão pra se vangloriar que é rapariga, cachaceiro, que gosta de puteiro, ou quando uma mulher canta 'sou sua cachorrinha', aonda vamos parar? como podemos querer pessoas sérias, competentes? E nao pensem que uma coisa não tem a ver com a outra não, pq tem e muito! E como as mulheres querem respeito como havia antigamente? Se hoje elas pedem 'ferro', 'quero logo 3', 'lapada na rachada'? Os homens vão e atendem. Vamos passar essa mensagem adiante, as pessoas não podem continuar gritando e vibrando por serem putas e raparigueiros não. Reflitam bem sobre isso, eu sei que gosto é gosto... Mas, pensem direitinho se querem continuar gostando desse tipo de 'forró' ou qualquer outro tipo de ruído, ou se querem ser alguém de respeito na vida!
(Raquel Xavier Quirino)

*************************************************************************************
Poeta Zessandro,

Abraços e veja o que respondí a uma amiga que me mandou esse mesmo texto:Concordo com grande parte do texto, porém, ele não é de Ariano. Provavelmente é todo de Raquel Xavier Quirino. Ariano é erudito, o texto é pobre de vocabulário e argumentação; Ariano jamais escreveria que "baixou" algo da internet e não escreve matérias. Intelectuais do calibre de Ariano escreve ensaios, críticas literárias, etc e sobre assuntos mais densos.

LUCIANO TEIXEIRA
(BANCÁRIO APOSENTADO, EX-PRESIDENTE DA AFASER)

"Em 1998 eu era diretor do departamento de cultura da prefeitura de Sertãnia, junto com César Amaral. escrevi um manifesto do II FESTIVAL de MÚSICA DE SERTÃNIA que fazia criticas contundentes ao forró de plástico. Na época, fui condenado por muita gente."
(Josessandro Andrade)


AMIGO JOSESSANDRO E CONTERRÂNEOS...


Tenho acompanhado o que ocorre musicalmente em Pernambuco, Nordeste e Brasil. Não sou "puritano" e também não tenho quaisquer preconceitos musicais. Escuto de tudo e de todos os estilos, desde que seja bem feito! O que é música bem feita? Não sei... Penso que seja algo poético, bem harmonizado, com uma melodia inédita - bonita ou não, bem gravada e masterizada... Sem apelo (apenas) comercial. A arte é um produto e precisa ter uma roupa para venda! Ninguém compra um produto inacabado... Existe um Procon que protege o consumidor.

Não devemos confundir cultura com entretenimento. As duas palavras fazem parte do dia a dia, da convivência humana e pacífica! Quando uma das opções (cultura ou entretenimento) tenta desmerecer a outra, o direito à escolha é massacrada. Não podemos esquecer dos milhares e milhares de músicos, bailarinos, artistas plásticos, atores e outros, entregues às moscas e de pires na mão, tentando buscar um espaço, para mostrar que a cultura deve ser preservada! E daí? O que é cultura? Eu sei o que é... O Mestre Ariano Suassuna também sabe! A cultura deve ser preservada? Eu afirmo que sim! Mas está na hora da cultura se aliar ao entretenimento e virar fonte de divisas para o Brasil. Talvez seja o caminho para que muitos possam ter o direito à escolha do "bem feito", e as empresas privadas sérias patrocinem os produtores culturais, sem a humilhação da captação de recursos nas filas do MinC (Ministério da Cultura) e Secretarias de Cultura dos vários estados tupiniquins.

Lembro aos amigos que o grande "Luiz Gonzaga" (em 1973) tocou em Sertânia - PE, na Pedra Grande, em um circo sem lona! E eu ouvi uma música chamada "Ovo de Codorna". Para quem compôs “Asa Branca”, essa música soou como afronta. Eu ouvi alguns vizinhos dizerem que o “Velho Lua” estava apelando para vender discos. E a história prova o contrário: “Gonzagão” era um gênio! Ele antecipada que o antigo remédio “Viagra”, talvez resolvesse os problemas dos machistas do Sertão! Isso não quer dizer que as atuais canções eróticas sejam obras-primas! Longe disso! A citação “Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!”, mostra o desprezo (por parte de alguns nordestinos) com o sexo feminino. Em que Estado do Brasil ocorre os maiores índices de assassinatos de mulheres? As prefeituras e seus departamentos sociais contratam este tipo de música. A culpa é do artista, cantor, cantora, bailarina, empresário artístico, ou de toda a sociedade machista? Talvez o Mestre Ariano analise que algo está errado com a sociedade medieval do Sertão. É preciso que a cultura de um povo seja uma aliada da educação! Outros povos matam em nome da cultura local!

Sou fã de Ariano Suassuna! Não gosto das músicas da “Banda Calypso”, mas admiro a força e talento do músico “Chimbinha” (brasileiro humilde) e sua esposa “Joelma” (moça sofrida), sobreviventes dos “nortes brasileiros”, entregues aos políticos e suas artimanhas. As “zonas” (que não são francas) existem em todas as cidades brasileiras! O músico “Chimbinha” saiu de uma dessas regiões... Poderia ser mais um cafetão! Por talento e opção de vida, virou um artista de sucesso! É um artista do entretenimento. Merece meu aplauso! Os discos da “Calpyso” podem tornar-se bens culturais? Não sei... Os costumes dos povos mudam! “Gonzagão” sofreu preconceitos! Graças a Deus, hoje é patrimônio cultural legítimo pernambucano e brasileiro. “Mestre Vitalino” que o diga! A elite brasileira sempre policiou a criação do povo!

A cultura deve ocupar seu espaço! As prefeituras municipais (inclusive a de Sertânia) podem dividir os espaços para todos. É democracia! Quem gosta de “Zé Ramalho” (sou fã nº 01), ouve o que é bom! Quem gosta da “Banda Calypso”, que ouça o que gosta! E a democracia do povo é respeitada! As rádios devem dividir os espaços para a cultura e o entretenimento... As receitas publicitárias aumentarão! E as partes envolvidas aplaudirão!

Grande abraço para todos...

Lailton Araújo
(CANTOR , COMPOSITOR, PRODUTOR CULTURAL, PROFESSOR. FILHO DE LUIZ PINTOR. SÃO PAULO -SP)



* É REALIZADOR ...Saber que este Ano a cidade de CARUARU, só contratou para as festividades Juninas, artistas (regionais e consagrados) do Forró Pé de serra. Saber que o Estado da Bahia começa se preocupar com a qualidade das Músicas de forró interpretadas nos Eventos, procurando excluir das programações culturais, o que nada transmite de cultura, apenas pelo interesse comercial ($ e Pessoal $), sem nenhum critério.


* É REALIZADOR... Perceber que este ANO a maioria dos colegas que integram o Forró pé de serra, trabalharam muito mais mesmo concorrendo com todos que fogem do GÊNERO , pegam carona no PERÍODO JUNINO e fecham Contratos fabulosos, mesmo sem saber se quer quem COMPÔS (OU CANTA ?) : ASA BRANCA... OS CONTRATANTES, estão nem aí para cultura, são mais pobres DE CONHECIMENTO que os ARTISTAS.


* É REALIZADOR... Vê as Escolas e Projetos culturais de São Paulo e grandes cidades, Contratando Artistas de Forró autêntico e educando seus professores e alunos com LITERATURA DE CORDEL, cultura popular, enquanto prefeitos de Cidades do Nordeste descaracterizam e prostituem o gênero, contratam Artistas por interesses eleItoreiros, pressão e favores, sem nenhum compromisso com o Calendário, dito CULTURAL , de tradição Junina.


* É REALIZADOR... receber mais de 80 ligações numa única linha e num intervalo duas horas, como ocorreu no último Domingo no nosso Programa, quando fizemos a enquete sobre a CAPITAL DO FORRÓ, tocando exclusivamente SUCESSOS do Forró Pé de Serra, com pitadas de Cordel e Vaquejada, enquanto a maioria das Rádios em todo Brasil (INCLUSIVE NO NORDESTE) preferem divulgar músicas com apelo comercial, ao invés de resgatar Sucessos e incentivar novos valores. Mas, estamos no caminho... Um dia chegaremos lá !


LUIZ WILSON V DE BRITO


cantor/poeta e comunicador
*************************************************************************************



Ninguém discute a importância das matérias que o jornalista José Teles tem escrito sobre o forró. Com críticas afiadas sobre arranjos e concepção estética, tem ajudado a reflexão sobre a produção fonográfica do gênero. A Sociedade dos Forrozeiros Pé de Serra e Ai! também tem desempenhado importante papel na organização dos artistas e na discussão da cadeia produtiva musical ligada ao forró, principalmente com a dinâmica participação de Tereza Accioly.
Nesse dia de 24 de junho, o Caderno C do Jornal do Commércio estampa o título da matéria assinada por Teles na sua primeira página: Tereza bota a fuleiragem para correr, com o subtítulo Presidente da Associação dos Forrozeiros Pé de Serra e Ai comandou a virada de mesa que valorizou a tradição.
Venho dizer aos amigos, incluindo entre eles Tereza, que foi profundamente infeliz o jornalista José Teles nesse titulação, pois que cometeu uma grande injustiça. Tanto Teles, quanto Tereza, e todos os que acompanham atentamente essa discussão e transformações da cena musical forrozeira sabem da importância e do pioneirismo do jornalista Anselmo Alves ao levantar essa bandeira contra a fuleiragem music. Sua “voz de trovão”, como bem definiu José Mário Austregésilo em artigo publicado no jornal CORDEL NO MEIO DO MUNDO, da Livraria Expressa, em maio do ano passado, em sua homenagem, tem aberto o caminho para a atuação de muita gente que encontrou o terreno capinado para plantar suas sementes.
Seu manifesto EU QUERO O MEU SERTÃO DE VOLTA!, publicado pelo próprio Jornal do Commércio em abril de 2008, levou essa discussão, via Internet e jornais alternativos, para várias cidades do interior pernambucano e brasileiro. No seminário sobre forró realizado pela Associação de Forrozeiros em Gravatá, Anselmo foi convidado a participar, levando seu manifesto áudio-visual FORRÓ ESTILIZADO: UM ESTELIONATO POÉTICO. Esse manifesto tem tido grande repercussão pelo forte impacto causado pelas cenas editadas de diversas bandas, durante apresentações em praça pública, expondo suas cantoras e dançarinas em trajes mínimos e coreografias que exploram o apelo sexual explícito, com letras chulas, de nenhum valor poético, sem nenhum respeito ao público e aos verdadeiros compositores de forró.
Estaria cometendo também uma injustiça se não citasse o pioneirismo da Prefeitura do Recife, através de seu ex-secretário de cultura, Roberto Peixe, de Fernando Duarte e Beto Rezende, que imprimiram, ao longo de 8 anos de administração, uma curadoria séria, excluindo da cena musical do Recife, a fuleiragem music.
Não há como falar dessa batalha cultural sem citar esses nomes: Anselmo Alves, Roberto Peixe, Fernando Duarte e Beto Rezende. Espero que não sejam esquecidos quando forem escritas e ditas as próximas palavras sobre o assunto.
Justiça seja feita.
Lêda Dias
Recife -

(CANTORA E COMPOSITORA)


Parabéns, Leda.

Complemento, dizendo apenas o seguinte:

Aos Poetas cabem abrir os caminhos.

A reviravolta ocorrida não pode ter dono. Isto é um processo...fermentado ao longo dos anos e das gerações conscientes. O brado do Anselmo e de tantos outros já está registrado de maneira eterna nas mentes pensantes que preconizavam, mais cedou ou mais tarde, a desabalada carreira do que não presta Até o grito do hoje silencioso Bernardo Alves, foi importante para a tomada de consciência que hoje se observa.

Uns fazem, ás vezes até de maneira discreta. Outros, ao contrário, pegam carona naquilo que está sendo feito..E alardeiam aos quatro cantos e aos ventos, que não veem, não sentem e não sabem, que um processo desse jaez não pode ter dono.

Esta batalha já está ganha. Cabem aos poetas, descobrir outras guerras. Independente de que lá mais na frente. sejam reconhecidos ou não como pioneiros no processo.

Obrigado pela citação ao Cordel no Meio do Mundo e à Livraria Expressa. A tua citação vale mais do que qualquer holofote de qualquer mídia hoje existente. Já estamos no número 3. O 4 está sendo impresso...Unindo Cultura com Meio Ambiente e que, logo mais, será objeto do reconhecimento de alguns.

O artigo do Anselmo, do José Mário Austregésilo, já estão registrados em nossos arquivos há bastante tempo.

Como também o Cordel EU VI GONZAGA CHORANDO NA VISITA AO PÉ DE SERRA..., do quase escriba que vos fala...

Ser reconhecido ou não, não tem a menor importância...O importante é fazer...Fazer historia vale mais do que qualquer citação em qualquer mídia, é o recado que deixo para o meu irmão da voz de trovão.

Alberto Oliveira.

(POETA, COMPOSITOR, CORDELISTA E EDITOR)






Eu quero meu sertão de volta -( Anselmo Alves)


Nos últimos dez anos tenho viajado freqüentemente pelo sertão de Pernambuco, e assistido, não sem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com a conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Em todos os espaços de convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade que, não raro, desqualifica e coisifica a mulher e embrutece o homem.O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta “beber, cair e levantar”, ou “dinheiro na mão e calcinha no chão” ? O que adianta o governo estadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando “vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado” ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depois de beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira e violenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio os três jornais de maior circulação no estado todos os dias, e nada encontro que questione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixa qualidade.

E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos?Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem uma coreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musical que, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de “forró eletrônico”! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produção de um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas; tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos! Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica e visual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produção mais cuidadosa para as apresentações em geral.


Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo!Mas, felizmente, há exemplos que podem ser seguidos. A Prefeitura do Recife tem conseguindo realizar um São João e outras festas de nosso calendário cultural com uma boa curadoria musical e retorno excelente de público. A Fundarpe tem demonstrado a mesma boa vontade ao priorizar projetos de qualidade e relevância cultural.Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo o maestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu do Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!

Eu assino embaixo!


ANSELMO ALVES





Nenhum comentário: