quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Centenário de Waldemar Cordeiro





As homenagens aos cem anos de nascimento( 20/10/1911)do poeta Waldemar Cordeiro vão se acumulando. Elas começaram em Janeiro, na Semana estudantil de Artes, dedicada ao centenário do mesmo, onde não faltaram recitais, a montagem de uma exposição biográfica e poética do Gênio do lirismo.
Em março a SAPECAS- Sociedade dos Poetas, Compositores, Escritores e Artistas de Sertãnia realizou o Canto da Poesia- Encontro de poetas e artisdtas de Sertânia e regiâo também em homenagem aos cem anos de nascimento de Mestre Dema.
Já em abril foi reinaugurada a Casa da Cultura de Sertãnia que leva o nome do poeta Waldemar Cordeiro, tributo da ACORDES- ASSSOCIAÇÃO CULTURAL DE SERTÃNIA ao centenário do mesmo.
Em julho o vereador Junhão Lins apresentou na câmara de vereadores, o projeto que virou lei municipal instituindo 2011 como Ano Literário Waldemar Cordeiro.
Em setembro,foi realizada na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, uma mesa redonda em homenagem ao centenário do Poeta Waldemar Cordeiro.
A Programação do centenário está sendo elaborada e breve divulgaremos.

UM OLHAR SOBRE A OBRA DE WALDEMAR CORDEIRO*





Por:Josessandro Andrade

*Palestra proferida no Circulo das ideias, palco principal da programção da VI Bienal
Internacional do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções)


“TENHO A CABEÇA TONTA E A MENTE CHEIA
DOS COMPROMETIMENTOS DA BONANÇA
DA DEMAGOGIA DA ESPERANÇA
DA TENTAÇÃO DO OURO EM TERRA ALHEIA”
( Waldemar Cordeiro)


O poeta na efervescência dos projetos utópicos que se levantam no seu íntimo, reafirma sua crença vocacional no futuro, disposto a correr os riscos que todos os deleites possuem. Assim foi a vida e a obra de Waldemar Cordeiro, em Sertânia, nascido a 20 de Outubro de 1911 e falecido a 30 de outubro de 1992. Homem plural e artista múltiplo:Professor, tabelião público, diretor de educação municipal, poeta, compositor, músico e teatrólogo.

Dono de uma farta obra poética, mas de uma bibliografia curta, o poeta de Sertânia estreou em uma brochura, ainda na década de 1940, com “ondas revultas”, que não continha ainda o potencial ,que ele ostentaria no longo Desenvolvimento de sua produção literária, que iria desembocar numa peleja por editoras, gráficas e órgãos públicos para publicar seu segundo e definitivo Livro,“salão de sombras”, lançado em 1992, pela Prefeitura do Recife, através da Fundação de Cultura, ao qual não chegou a vê-lo impresso, já que fora vítima de acidente de trânsito, aos sair do edifício do poder executivo da Veneza Brasileira,
Atropelado por um veículo, vindo a falecer dias depois, aos 81 anos, após dolorosos dias de internação hospitalar.

“Salão de Sombras” é dividido em em duas partes. Na primeira, há o
“Livro de Siboney” e “Poemas bíblicos”. A segunda engloba “Cadernos de infância”, "visões do mundo e das coisas”, “paisagens”, “apocalipse”, “sonetos”,”trovas e poemetos” e “poemas ad-memorian”.

O “Livro de Siboney” traz o grande poema de amor dedicado a esta, que segundo Alberto da Cunha Melo “é mais uma musa incorporada a mitologia poética do nordeste”. Waldemar Cordeiro alimentou por Siboney um sentimento Estético quase obssessivo, como manda o figurino do estilo romântico, mas deu-lhe forma com elementos do simbolismo como neste trecho:

“Usaria ao falar de Siboney
Palavras refletidas nas estrelas
Todo o charme de Círio Dentre aquelas
E o sol de fogo em que me incendiei”

O teor simbolista se reafirma nos “poemas bíblicos”, onde , católico por formação e opção, Waldemar Cordeiro destila seu misticismo religioso em metáforas sugestivas como : “ o Sol que ventania traz nas costas / apunhalara a estrela da manhã”. Na sua concepção de Cristão, ele também não fecha os olhos Para os descaminhos da realidade social :

“Sinos tocam. Garotos brincam nus
Em véspera de festa, a mais sagrada
Papai Noel promete e não dá nada
Pro Natal dos meninos de Jesus.”

Da sua meninice vivida parte em Minas Gerais, parte em Cabrobó, na beira do rio São Francisco, o poeta escreveu “ Caderno de infância” onde o eu-lírico
Radicaliza na defesa da poesia enquanto a mais perfeita possibilidade de reconstrução do mundo passado e mágico, ao afirmar que “só a poesia faz voltar
Á infância”. Para comprovar a suas tese, ele argumenta nos remetendo aos arraiais da natureza, no correr dos rios, no florescer dos campos, ao cantar de passarinhos, que misturavam-se ás cantigas de roda as canções de ninar das mães:

“Noite já. Minha mãe com suas mãos de lira
Me embalava a cantar numa rede de embira.”

Nesse mergulho no universo de cronos, o seu foco vai até a “adolescência”,
Onde numa retrospectiva telúrica resgata os primeiros e inesquecíveis amores:

“Via á tardinha Lourdes no chalé,
Judia sob um véu azul turquesa,
Plantava beijos nos leirões de Anita,
Corria léguas para ver Teresa

Nas “visões do mundo e das coisas”, Waldemar demonstra ser de fato o
“Mestre Dema”, a dominar também os recursos do verso livre e da poesia moderna, como em “Pântano”, cujo uso harmonioso de antíteses imagens Revelam identidade com as tendências contemporâneas:

“O sapo gênio da lama
Vive sempre a olhar pro chão
E morre fitando o céu”


Para adiante concluir:


“Não tive glórias: sonhei-as.
Não há que meça a distância
Que vai da lama às estrelas”.


As “paisagens” servem como exemplo claro do caráter atemporal e universal da poesia de Waldemar Cordeiro, onde canta desde as figuras mitológicas, as pirâmides egípcias até os sertões do Moxotó, do Pajeú , do São Francisco , da Baixa verde, do Ipanema, do chapéu de couro...

A polivalência do talento poético de “Dema do Moxotó” se faz notar no exercício de “ Os sonetos”. Sabendo-se que não são poucos os vates desavisados,Que desconhecem as características básicas, que vão além da fórmula das estrofes, de dois quartetos somados a dois tercetos, mas envolvem também elementos da rima e da métrica, Waldemar desenvolve este tipo de composição poética,utilizando as orientações clássicas, revelando-se um artífice manuseador Dos recursos mencionados, a exemplo desse alexandrino:

“Proclamaram-me rei da esperança do nada
Meu palácio ruiu como casa sem dono
E não passou de sinfonia inacabada”.


A proximidade geográfica com o Pajeu Pernambucano e o Cariri Paraibano, além da consciente necessidade de pluralidade cultural manifesta no poeta, fizeram com que Waldemar Cordeiro não só mantivesse amizade com os poetas populares de São José do Egito e Itapetim, a exemplo de Lourival Batista, Jó Patriota e outros, e de Monteiro como Pinto do Monteiro, que por muitos anos morou bem próximo do Mestre Dema, em Sertânia, participando de cantorias , onde atuava como motista destes violeiros cantadores e também em rodas de glosas. Isso Contribuiu para ampliar ainda mais a influências da poesia popular Na obra poética de Waldemar, já que como sertanejo,criado nesta região, é natural o convívio com os repentistas. “Trovas e poemetos” é um exemplo a toda prova, onde os temas, expressões e estrofações bebem na mesma fonte dos poetas populares, conservando nuances sofisticados de erudição em seu vocabulário.Que Bela canção de viola daria “Monólogo de um carro de boi”, um lamento do rústico transporte rural ante a chegada do táxi de praça , que roubou-lhe a glória e os passageiros, ou que belo romance de cordel não daria “Rosa Maria”, uma tragédia Passional no bairro da Pedra Grande, que abalou a cidade. Na primeira, tal um poeta na feira, personifica o protagonista em sua derradeira lamentação:

“Adeus vida minha
Cai na desgraça
Que o carro de Praça
Roubou-me o que eu tinha”



Em “Rosa Maria”, o eu-lírico encarna a revolta coletiva diante do bárbaro crime:

“Pixaca, Otelo vulgar
Pra colhê-la de surpresa
Depois de servir-se dela
Fê-la vítima indefesa

No bairro da Pedra Grande
Em horas aveludadas
Tombava Rosa Maria
Com quatorze peixeiradas”


Em “Casa Velha” , o poético cheiro da terra nos remete ao mundo telúrico da nostalgia, numa visão romântica , assim como a do eu-lírico presente nas sextilhas do poema “Só para os olhos”, que virou painel de poeisarte no bar e restaurante” Aconchego”, em Sertânia, desde a época de sua inauguração em 1998, criação do artista plástico Maurício Floriano. Em “a bolsa ou a vida”, esse modo romântico de ver, ganha elementos novos, com uma leve ironia realista:

“Bolsa e vida a sua escolha:
“Uma e outra estão vazias”.


Assim podemos observar os mais diversos aspectos da poesia de Waldemar Cordeiro, que foi na verdade o grande intelectual que viveu em Sertânia. Enquanto Ulysses Lins de Albuquerque fixou-se no Rio de Janeiro e Alcides Lopes de Siqueira, radicou-se no Recife, ambos por obrigações profissionais e familiares, embora não tirassem a terra natal do pensamento e nela Mantivesse pelo menos uma ou até mais fazendas, Mestre Dema , pai de duas famílias ,“optou” , por livre imposição da vida, por morar no Sertão do Moxotó, mais precisamente em Alagoa de Baixo, hoje Sertânia.

Em 1948, com Abílio Monteiro e Ubirajara Chaves, fundou o Ginásio Olavo Bilac,que tornou-se um dos mais tradicionais do interior de Pernambuco, dos quais seria professor de Português, latim e canto orfeônico, entre outras disciplinas. Tabelião público, músico saxofonista, escrevia em partitura com grande desenvoltura. No tradicional América Esporte Clube , foi um dos fundadores, relator do estatuto social e exerceu diversos cargos na direção. Na Prefeitura Municipal foi diretor de Educação de várias gestões e assumiu interinamente cargo de prefeito, no período em que foi secretário-geral do município.

Notável compositor, bastante requisitado pelas famílias da comarca para escrever a valsa das debutantes, saudoso costume daqueles anos românticos. Hoje a trilha sonora de muitos aniversários de quinze anos é o acinte de músicas apelativas, que só falam grosseiramente em baixaria, sem nenhuma poesia, acompanhadas por ritmos que nada tem de melodioso, a não ser as batidas mecânicas de som performático de Academias de ginástica. Hoje, os meios de comunicação só querem faturar o famoso jabá, sem a mínima preocupação com a qualidade musical. É Difícil vermos sendo executadas canções como as de Waldemar Cordeiro e Francisquinho, em memoráveis parcerias de frevos, baiões, sambas, tangos , valsas e boleros, onde a sensibilidade aflora: “Aquarela do sertão”, “Basfont”, “Lá vem a onda”, “Carnaval é sonho”, “Garota san tropê”, Pobre Trovador, entre quase uma centena , segundo o pesquisador João Henrique Lúcio.

Em 2011, estamos há apenas dois anos do centenário de Waldemar Cordeiro.
Será que o município de Sertânia vai se preparar para comemorar tão importante marco? Ou fará um improviso como ocorreu com o de Etelvino Lins? Daqui para lá o que ocorrerá com a obra do Mestre Dema? Irá continuar sendo apenas reverenciada pelos intelectuais, artistas, pequena parte da juventude e professores, sem um estudo maior por nossas escolas, sem publicações, colocado no esquecimento, a ponto de não ter sequer uma Rua em Sertânia com o seu nome, enquanto chovem os casos de praças, escolas e ruas com nomes de apadrinhados políticos?...

Encerro este despretensioso texto, tomando emprestadas as palavras de Alberto da Cunha Melo, poeta pernam,bucano, considerado um dos maiores nomes da poesia brasileira contemporânea, no prefácio da obra: “ Falar (... )sobre poesia é o mínimo que podemos fazer contra os que só se ligam as falsas duplas sertanejas, produzidas aos montes nos estúdios do sul do país. Precisamos gritar contra a avacalhação de nossa cultura pelos bandos modernos de cowboys, que trocam nossas vaquejadas e cavalhadas pelos milionários e descaracterizadores rodeios da nossa identidade como povo. O surgimento de um livro da mais verdadeira poesia é uma oportunidade que temos para fazer, ao mesmo tempo, uma denúncia e um louvor. “Louvo então Waldemar Cordeiro, o poeta de Siboney.” E Mais não disse o poeta Alberto. E mais não digo eu... Também, pudera...

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Josessandro Andrade é professor, poeta, compositor e autor teatral.






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terça-feira, 11 de outubro de 2011

CEM ANOS DE NASCIMENTO DO GÊNIO DO LIRISMO: homenagem na bienal do livro em Recife








Waldemar Cordeiro foi homenageado na VI Bienal Internacional do Livro do Recife, com a mesa redonda "Waldemar Cordeiro : Cem Anos de Nascimento do gênio do Lirismo", tendo como debatedores Josessandro Andrade(Professor EREMOB, poeta e compositor, Marcos Cordeiro (dramaturgo, poeta e artista plástico e Adriano Macena (autor e diretor teatral). o evento foi prestigiado por sertanienses residentes em Recife, familiares do poeta, estudantes e intelectuais.
Convém registrar as presenças dos poetas Ésio Rafael, Alberto Oliveira,
Wilson Freire(que é primo do poeta Waldemar Cordeiro), da poetisa e contista Rafaela Cordeiro( para quem seu pai, Marcos Cordeiro,escreveu o livro "Hai-kai Para Rafaela"), a professora Wilma Patriota e seus filhos talentosos da banda Forró Pathouly (é assim que se escreve?...) Junior e Rafael, as filhas do poeta Cacá e Lourdinha , bem como a nete Laura Cordeiro Chaves.




Veja os Links acesse :

Poeta Waldemar Cordeiro - Comunidade no orkut
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=47208194

ENTIDADES LITERÁRIAS E CULTURAIS LANÇAM DOCUMENTO SOBRE CENTENÁRIO DE WALDEMAR CORDEIRO






CARTA DO CENTENÁRIO DE WALDEMAR CORDEIRO

Sertânia é conhecida como uma cidade de poetas e artistas . A sua produção cultural acima da média das cidades do interior são um exemplo claro disto. Waldemar Cordeiro, poeta, compositor, educador, músico, é uma das maiores expressões deste manancial de cultura, que é o vale do Moxotó. 20 de Outubro de 2011 assinalará os 1000 anos de nascimento deste singular homem das letras do Sertão,

Apesar de só ter cursado até a 4ª série do antigo primário, foi escolhido um dos melhores professores leigos do Brasil, em congresso realizado no Rio de Janeiro, além de Ser um dos fundadores do tradicional colégio Olavo Bilac( Hoje Escola de Referência de Ensino Médio em tempo integral), na qual foi professor de latim , língua Portuguesa e canto Orfeônico.

Notabilizou –se como poeta, autor dos livros “Ondas revultas” e “Salão de Sombras”, e como escritor foi membro da UBE- União Brasileira de Escritores, secção Pernambuco e cuja obra foi alvo de apreciações elogiosas por parte de diversos intelectuais pernambucanos a exemplo de Alberto da Cunha Melo, Marcos Acioly, Ângelo Monteiro, José Rafael de Meneses, Potiguar Matos, entre tantos outros. Sua obra poética o levou a participar de diversas antologias, entre as quais “Os poetas cantam o Recife” ( Prefeitura da Cidade do Recife, 1986)“Pernambuco, terra da poesia” (Instituto Maximiniano Campos).

Como compositor, escreveu a letra do hino oficial de Sertânia, além de inúmeros frevos, valsas, tangos , boleros , sambas e baiões, em parceria com o compositor e maestro Francisquinho. Com vida púvblica ativa foi tabelião público, diretor municipal de educação de seis gestões municipais, Secretário –geral da prefeitura e prefeito interino em algumas ocasiões, bem como foi o relator do estatuto do América Esporte Clube, o mais importante da cidade.

Queremos chamar atenção da sociedade de Sertânia e do Estado Pernambuco, dos seus respectivos governos, da Câmara Municipal de Sertânia, da Assembléia Legislativa de Pernambuco, dos Organizadores da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco e da Fliporto, para que o centenário deste ícone da poesia pernambucana não passe em brancas nuvens.

Sendo assim, apresentamos para o conhecimento de todos as nossas reivindicações para homenagear a memória do nosso Menestrel maior.:
- Total apoio ao Flis - Festival Literário do Sertão (Prêmio Viva Leitura 2009) totalmente dedicado aos 100 anos de nascimento de Waldemar Cordeiro.
- Construção de uma estátua ou busto do poeta Waldemar Cordeiro, sendo uma em Sertânia e outra no Recife.
- Sessões especiais na Academia Pernambucana de Letras, na UBE-PE, na Assembléia Legislativa de Pernambuco e na Câmara Municipal de Sertânia.
- Homenagens na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco e na Fliporto
- Publicações na Imprensa Pernambucana e cobertura dos órgãos de comunicação de Pernambuco (jornais, rádios, Tvs)
Certos de que outras propostas poderão surgir, estamos abertos à discussão. E desde já propomos a formação de uma comissão com representantes do Estado de Pernambuco e do Município de Sertânia para articularmos um projeto único.

Sertânia, 10 de agosto de 2011

ACORDES – Associação Cultural de Sertânia
SAPECAS – Sociedade dos Poetas, Escritores e Compositores de Sertânia
JPCR – Jornal de Poesia Cabeça de Rato

FILHOS POETAS- INÉDITOS:NOVOS POEMAS DEDICADOS A WALDEMAR CORDEIRO





















SINGELA HOMENAGEM

(Dedicado ao centenário de nascimento

do poeta Waldemar Cordeiro, meu pai)


Como expressar minha admiração
A alguém que para mim foi um mito?
Convivi pouco com ele (esquisito!),
Falta me fez seu amor, sua benção...


Filho marginal ante a lei de então,
Assim me sentia, como um desdito.
Prá ele, poeta, um sonho prescrito,
Prá mim, ser comum, algo sem razão.


Sempre tive orgulho de ser seu filho,
Embora aquém de seus dons, de seu brilho,
Sou parte de um tesouro hereditário...


Salve! Waldemar de Souza Cordeiro,
Grande poeta, “bravo sertaneiro”,
Neste ano, pelo seu Centenário!








DESPEDIDA POÉTICA(versão inédita)
(Marcos Antônio Cordeiro)

Talvez torta
a sombra da existência morta
a flor nos copos da infância
aborta
aborta, ó poeta
teu projeto de grandeza
teus sonhos inatingíveis
tua vonmtade de chegar ao cais
tua sede de ver o mar
tua tarde a dourar-se com o final do século
teu retrato de avô
sobre a parede moça
teu tesão de envelhecer
amando Siboney
tua musa, única musa
ave de lugar nenhum
aborta, ó poeta
este olhar profundo
de retinas fatigadas
preparando-se
para a longa seresta
de um mundo que não mais o teu
indefinível porto planejado
para o último canto orfeÔnico
aborta, ó poeta,
aborta
a tua ãnsia perdida
o teu desejo mais louco
os amores proibidos
pelos acontecimentos do tempo
Tempo-semente de falta,
horas infindas,
ócio que faz da vida um eterno jejum.
e enfia em tuas veias os fios da noite
até eletrocutar em ritmo de Extase
com o que nunca foste:
a alegria imbecil de todas as estrelas



Epitáfio para um poeta

Marcos Cordeiro


Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
junto as suas musas, adormecido.
Iraci, Siboney, Nise e outras belas
que o seu coração enternecido
dedilhando a sua lira, deu-se a elas.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro
com os seus livros numa alfombra,
páginas escritas por um trovador:
“Ondas Revoltas” e “Salão de Sombras”,
poemas de um estro sublime e sedutor.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
livre da usura, da inveja e da maldade.
Enfim, livre de homens e de prantos.
Por herança só deixou saudades,
por saudades só restou seus cantos.

POETAS DE SERTÂNIA COM POEMAS DEDICADOS A O MESTRE WALDEMAR CORDEIRO

IMORTALIDADE

( A Waldemar Cordeiro)

O poeta não morre
costuma viajar ao país
da imortalidade
voando no cavalo alado
dos seus versos
para de lá, semear
sobre os jardins da Terra
as sementes do amor-
único e verdadeiro
alimento
para sobrevivência dos
mortais.
Não morrerei jamais

(Hamilton Rodrigues)


WALDEMAR CORDEIRO.

( Ao mestre com saudade).



ROMPEDOR DE TABU E DE PADRÃO

PROFESSOR DA MAIS ALTA HIERARQUIA

DANÇARINO MAIOR DA BOEMIA

UM POETA DE GRANDE DIMENSÃO

FOI ASSIM WALDEMAR NESTE TORRÃO

METAFÓRICO FELIZ E ALTANEIRO

NÃO TROCAVA A VIDA POR DINHEIRO

MAS DEU PRUMO AOS ALUNOS NA JORNADA

DECANTOU OS SERTÕES EM ALVORADA

ODE AO AR A O MAR E AO CORDEIRO.


( Ésio Rafael)




PAI
Morre Deus
De vez em quando
Feito flores
Sem receber cuidados
Num vaso chinês
O poeta do Paraíso Mundo
Pai de todos os versos
Que dão
Ventos
Sol
& chuva
Dentro de nós...
Outras correntes
Marcando pulsos
Num ferimento recente.
Morre Deus
De vez em quando
Justo quando
Nem todas as flores
Nos permitiram falar
Sobre o que pensamos ser
Dentro de nossas vidas caladas...
Morre Deus
Quando já sabemos
- Bem no íntimo -
Que nem todos os pássaros
& borboletas
Querubins
Do mundo moderno
Deram uma nova ordem
Imediata às coisas
Que ainda vivem.


Morre
& imagino como teria sido:
Deitado num quarto frio
A coberta branca
& o corpo respirando
A antipoética poesia
Girando o olhar
A janela onde pousa
Providencialmente
Um canário feito de raios solares
& diz: - RECITA, POETA,
O TEU SONETO DERRADEIRO
& MAIS BELO.
DEIXA ESTA PÉROLA
REGISTRADA NO MEU MUNDO
ONDE MORTAL ALGUM
CORTARÁ SEU BRILHO
& VENS VOAR COMIGO
PELA ETERNIDADE...
& bem poderia ele, poeta,
Ter respondido:
A POESIA ESTÁ
NO MEU NOME
UNS POUCOS VERSOS
EM SANGUE & OSSOS
QUE JÁ TIVE...
& satisfeito, o pássaro-anjo
Receberia a vida
Quando para esta
São feitas as mortalhas
& num rasgo de luz
Guardaria em si
O poema.
Assim, deveriam morrer os deuses,
Mas a realidade
Ainda não é dona dessas mágicas.
Morre Deus
& da vidraça em chamas
Vejo o mundo
& sou pele das folhas verdes
Que se eriçam quando o vento
Roça a língua em seus dorsos.
Vejo a lápide
O nome gravado
Na mão direita, um punhado de terra
Que num único gesto,
Soterra uma prece perdida,
Dentro do curto instante
Que não pertence mais ao tempo...
Bem depois das pás silenciarem
& o ininterrupto choro de recusa à morte,
À sangrenta ferida, ser apenas distância,
Olho bem aquilo & encontro a luz
Que sinaliza Deus em nós,
Tangendo a impressão
De que todas as coisas
Poderiam ter ido com ele.
Ele viverá!
(De: Zito Jr.)
*****

O DIA EM QUE VITALINO VOLTOU A CARUARU
(TRECHO)



Em Sertãnia fizeram uma parada^
Pra visita ao Compadre Waldemar
Que levou comitiva a passear
A Donzila pediu uma buchada
Cada um de Rainha uma lapada
O bordel era paz ao meio dia
E estreito o caminho da ferrovia
Vitalino e Deminha embriagados
Dois poetas na tarde abraçados
E o mundo saudando a poesia.

Levam Dema pro quarto do hotel
Pra dormir agarrado à Siboney
Em seus braços Deminha era um rei
As estrelas saudando lá do céu
Prepararam de luz um branco véu
E cobriram os corpos dos amantes
E os sonhos longínquos e distantes
Nessa noite o sonhar realizado
Vitalino deixou com o namorado
Para a dama um colar de diamantes.



ALBERTO OLIVEIRA

DEMINHA

Vê saudades
versinhos pulalam ao redor
do caminho pelas alpargatas feito
onde meio sem jeito
um vulto torto para o lado direito passa
acendendo de leve o seu “cigarrinho”

É Waldemar
o poeta entregue ao catabolismo do tempo
já não como antes
As valsas? Como parecem distantes

Velho?
Velhos são as estradas menino!
Eu tenho a mim, não sou sozinho
Como vocês pensam

Pesado é quando caminha
mas, como flutua gracioso
tendo nos braços uma professorinha
farfalhando em sedas e bailando
ao compasso
dos passos passados do “Velho Deminha”

(Prof: Ivan - 1970)





Epitáfio para um poeta

Marcos Cordeiro


Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
junto as suas musas, adormecido.
Iraci, Siboney, Nise e outras belas
que o seu coração enternecido
dedilhando a sua lira, deu-se a elas.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro
com os seus livros numa alfombra,
páginas escritas por um trovador:
“Ondas Revoltas” e “Salão de Sombras”,
poemas de um estro sublime e sedutor.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
livre da usura, da inveja e da maldade.
Enfim, livre de homens e de prantos.
Por herança só deixou saudades,
por saudades só restou seus cantos.







ENCONTRO DA POESIA COM A SAUDADE NO CEMITÉRIO DE SERTÂNIA

Marcos Cordeiro


Aos meus pais Iraci e Waldemar Cordeiro



Entre epitáfios e velas
ela passeia quase inerte.
De véu branco e transparente
seu corpo ausente se veste.

Ela segue por caminhos
onde a saudade a espera,
para recordar muitos nomes
que as lápides encerram.

A poesia é um caminho
de palavras que nos leva
da alma ao coração.

A saudade é um passarinho
a solfejar acalantos
e salmos à ressurreição.





ESTRELLAR II

“... Algum dia, não sei quando,
eu rolarei no espaço
como um corpo suspenso
além dos intermúndios...

(Waldemar Cordeiro)



Eu velarei por ti , como se vela
uma estrela distante no espaço sideral
Com dor, saudade e zelo, com
Pressentimento...
Para evitar que cesse o brilho dela

Eu velarei por ti, velando
a vela acessa no meu peito
em sentimento, a debater-se
as voltas com o tormento
das distâncias que embaçam sua estrela

Eu velarei por ti, pois sei
que a vida no passar da própria trama esnoba a graça
de teu Salão de Sombras
que fundiu as nossas almas
antes de vossa triste partida

Como um mendigo a se cobrir de chagas
Mas acima das benções e das pragas
Assim te espero, ó estrela que brilha
Em minha vida, assim espero
A mesma chama no dia de minha ida


(Marco Antônio Cordeiro de Melo)





MARCOS INFINITOS
(Ao meu pai prof. Waldemar Cordeiro)


Teu olhar já tão distante
de retinas fatigadas pelo tempo
Tua musa envelhecendo e envelhecida
pelo passar da idade, essa fria e
Verdadeira Sombra que nunca falha
“Irmã-Prima da morte”

Te sinto todos os dias como se você
Estivesse caminhando comigo nas ruas
Florestas infindas e mares imagináveis
Teu semblante cálido como o de todas as
rosas simbolizando paz, só me faz
recordar...

Como foi mágico caminhar contigo
Pelo mar, naquela noite de céu estrelado
Lembra-te!
Estarei contigo até o fim dos meus
Dias, e caminharemos juntos pela
Eternidade
Brincaremos com as estrelas e
Jogaremos nossos versos para a
Humanidade



(Marco Antônio Cordeiro de Melo)







HEMODIÁLISE

Os dias sombrios de agulhadas
Transpassam as minha carne
Infeccionando o meu sangue e veias

Os ponteiros de todos os relógios
são agulhas, necrologicamente com agulhas
infeccionadas pelo tempo

Tempo de adiamento
Planos... sem sucessos
de uma vida sem futuro
perspectivas para o nada
e tembém sem livramento

Tempo-semente de falta
horas infindas, ócio
que faz vida eterna jejum...
Esperando o momento...

Na máquina o amor revoa, revoa
Sonho com Siboney, minha musa
única musa
ave de lugar nenhum


(Marco Antônio Cordeiro de Melo)




MESTRE
(A Waldemar Cordeiro)


Vi um vulto de artista num beco escuro
era um poeta que ardia na febre das paixões
caminhando e hibernando por ruas sem muro
jorrando versos ao vento como os vulcões

Vi um semblante moço, uma ânsia de vida
nas noites ardentes com mulheres delirantes
nos êxtases sôfregos, nas serenatas & liras
nas orgias embriagadas de carícias palpitantes

Vi um poeta navegar nas espumas da poesia
Entregue ao cigarro, à bebida pelos feitiços de Siboney
Numa caravela à deriva nos subterrâneos da Boemia

Vi cabelos brancos num rosto envelhecido de um Rei
Em cujo peito, encharcado pelas frustações dos sonhos
Escorriam lágrimas cálidas
Sangradas de seu olhar tristonho

(Josessandro Andrade)-1989



CARRO AGÓNICO

(In memorian do mestre Waldemar Cordeiro)



Palavras-plático
misturadas de dor
Asfalto solitário
angustia
abismo
vivo.
Milhares de poemas
caem nas entranhas da Terra.
Germinando novo pântanos
Sapos com cérebros
pulam no mangue.
Dormes no Salão de sonhos
bem em cima
da imortalidade
O corvo de Poe
anuncia Siboneis
in(can)descentes
aqui a cidade
agoniza saudades
por ti.


(Flávio Magalhães)





NA MORTE DE WALDEMAR CORDEIRO


I


Agora o inferno é um cenário
estampado num céu morto
e a poesia é um simbolismo em luto
e a saudade uma águia seqüestradora
a nos atirar no ventre vazio
da tristeza dos abismos

Todos os anjos-demônios de Rimbaud
Todo o ranger de dentes dos gatos de Baudaleire
São os gemidos fúmebres
Das bestas humanas que
Vieram rejar a orquestra
De trevas que uiva
O concerto dos Caos

II

Me vi Rei sem súditos
me vi poeta sem bar
me vi sozinho num mundo
como a poesia sem Waldemar

Brasa momentânea de um instante eterno
desejei ter uma pedra na cabeça
desviar o fogo e morrer




(Josessandro Andrade)





DÉCIMAS PARA WALDEMAR

O céu da nossa cultura
opaqueceu seu luzeiro
porque Waldemar Cordeiro
já está na sepultura
Uma ótima criatura
e professor excelente
nosso povo descontente
diz tristonho a lamentar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

Chora todo Moxotó
pois tem razão de chorar
por professor Waldemar
que já se transformou em pó
Desde a bisneta a avó
cada um no peito sente
um aperto diferente
capaz de fazer chorar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

Foi professor e poeta
querido em nossa cidade
no campo da amizade
foi um verdadeiro atleta
ser bom amigo era a meta
com seu gesto sorridente
Hoje toda cidade sente
a sua ausência sem par
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

O professor Waldemar
Cordeiro com humildades
visitou várias cidades
mas sempre voltava ao lar
Foi um pai exemplar
educador competente
foi pra nunca mais voltar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

(Manoel Soares Sobrinho)