terça-feira, 11 de outubro de 2011

POETAS DE SERTÂNIA COM POEMAS DEDICADOS A O MESTRE WALDEMAR CORDEIRO

IMORTALIDADE

( A Waldemar Cordeiro)

O poeta não morre
costuma viajar ao país
da imortalidade
voando no cavalo alado
dos seus versos
para de lá, semear
sobre os jardins da Terra
as sementes do amor-
único e verdadeiro
alimento
para sobrevivência dos
mortais.
Não morrerei jamais

(Hamilton Rodrigues)


WALDEMAR CORDEIRO.

( Ao mestre com saudade).



ROMPEDOR DE TABU E DE PADRÃO

PROFESSOR DA MAIS ALTA HIERARQUIA

DANÇARINO MAIOR DA BOEMIA

UM POETA DE GRANDE DIMENSÃO

FOI ASSIM WALDEMAR NESTE TORRÃO

METAFÓRICO FELIZ E ALTANEIRO

NÃO TROCAVA A VIDA POR DINHEIRO

MAS DEU PRUMO AOS ALUNOS NA JORNADA

DECANTOU OS SERTÕES EM ALVORADA

ODE AO AR A O MAR E AO CORDEIRO.


( Ésio Rafael)




PAI
Morre Deus
De vez em quando
Feito flores
Sem receber cuidados
Num vaso chinês
O poeta do Paraíso Mundo
Pai de todos os versos
Que dão
Ventos
Sol
& chuva
Dentro de nós...
Outras correntes
Marcando pulsos
Num ferimento recente.
Morre Deus
De vez em quando
Justo quando
Nem todas as flores
Nos permitiram falar
Sobre o que pensamos ser
Dentro de nossas vidas caladas...
Morre Deus
Quando já sabemos
- Bem no íntimo -
Que nem todos os pássaros
& borboletas
Querubins
Do mundo moderno
Deram uma nova ordem
Imediata às coisas
Que ainda vivem.


Morre
& imagino como teria sido:
Deitado num quarto frio
A coberta branca
& o corpo respirando
A antipoética poesia
Girando o olhar
A janela onde pousa
Providencialmente
Um canário feito de raios solares
& diz: - RECITA, POETA,
O TEU SONETO DERRADEIRO
& MAIS BELO.
DEIXA ESTA PÉROLA
REGISTRADA NO MEU MUNDO
ONDE MORTAL ALGUM
CORTARÁ SEU BRILHO
& VENS VOAR COMIGO
PELA ETERNIDADE...
& bem poderia ele, poeta,
Ter respondido:
A POESIA ESTÁ
NO MEU NOME
UNS POUCOS VERSOS
EM SANGUE & OSSOS
QUE JÁ TIVE...
& satisfeito, o pássaro-anjo
Receberia a vida
Quando para esta
São feitas as mortalhas
& num rasgo de luz
Guardaria em si
O poema.
Assim, deveriam morrer os deuses,
Mas a realidade
Ainda não é dona dessas mágicas.
Morre Deus
& da vidraça em chamas
Vejo o mundo
& sou pele das folhas verdes
Que se eriçam quando o vento
Roça a língua em seus dorsos.
Vejo a lápide
O nome gravado
Na mão direita, um punhado de terra
Que num único gesto,
Soterra uma prece perdida,
Dentro do curto instante
Que não pertence mais ao tempo...
Bem depois das pás silenciarem
& o ininterrupto choro de recusa à morte,
À sangrenta ferida, ser apenas distância,
Olho bem aquilo & encontro a luz
Que sinaliza Deus em nós,
Tangendo a impressão
De que todas as coisas
Poderiam ter ido com ele.
Ele viverá!
(De: Zito Jr.)
*****

O DIA EM QUE VITALINO VOLTOU A CARUARU
(TRECHO)



Em Sertãnia fizeram uma parada^
Pra visita ao Compadre Waldemar
Que levou comitiva a passear
A Donzila pediu uma buchada
Cada um de Rainha uma lapada
O bordel era paz ao meio dia
E estreito o caminho da ferrovia
Vitalino e Deminha embriagados
Dois poetas na tarde abraçados
E o mundo saudando a poesia.

Levam Dema pro quarto do hotel
Pra dormir agarrado à Siboney
Em seus braços Deminha era um rei
As estrelas saudando lá do céu
Prepararam de luz um branco véu
E cobriram os corpos dos amantes
E os sonhos longínquos e distantes
Nessa noite o sonhar realizado
Vitalino deixou com o namorado
Para a dama um colar de diamantes.



ALBERTO OLIVEIRA

DEMINHA

Vê saudades
versinhos pulalam ao redor
do caminho pelas alpargatas feito
onde meio sem jeito
um vulto torto para o lado direito passa
acendendo de leve o seu “cigarrinho”

É Waldemar
o poeta entregue ao catabolismo do tempo
já não como antes
As valsas? Como parecem distantes

Velho?
Velhos são as estradas menino!
Eu tenho a mim, não sou sozinho
Como vocês pensam

Pesado é quando caminha
mas, como flutua gracioso
tendo nos braços uma professorinha
farfalhando em sedas e bailando
ao compasso
dos passos passados do “Velho Deminha”

(Prof: Ivan - 1970)





Epitáfio para um poeta

Marcos Cordeiro


Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
junto as suas musas, adormecido.
Iraci, Siboney, Nise e outras belas
que o seu coração enternecido
dedilhando a sua lira, deu-se a elas.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro
com os seus livros numa alfombra,
páginas escritas por um trovador:
“Ondas Revoltas” e “Salão de Sombras”,
poemas de um estro sublime e sedutor.

Aqui repousa Waldemar Cordeiro,
livre da usura, da inveja e da maldade.
Enfim, livre de homens e de prantos.
Por herança só deixou saudades,
por saudades só restou seus cantos.







ENCONTRO DA POESIA COM A SAUDADE NO CEMITÉRIO DE SERTÂNIA

Marcos Cordeiro


Aos meus pais Iraci e Waldemar Cordeiro



Entre epitáfios e velas
ela passeia quase inerte.
De véu branco e transparente
seu corpo ausente se veste.

Ela segue por caminhos
onde a saudade a espera,
para recordar muitos nomes
que as lápides encerram.

A poesia é um caminho
de palavras que nos leva
da alma ao coração.

A saudade é um passarinho
a solfejar acalantos
e salmos à ressurreição.





ESTRELLAR II

“... Algum dia, não sei quando,
eu rolarei no espaço
como um corpo suspenso
além dos intermúndios...

(Waldemar Cordeiro)



Eu velarei por ti , como se vela
uma estrela distante no espaço sideral
Com dor, saudade e zelo, com
Pressentimento...
Para evitar que cesse o brilho dela

Eu velarei por ti, velando
a vela acessa no meu peito
em sentimento, a debater-se
as voltas com o tormento
das distâncias que embaçam sua estrela

Eu velarei por ti, pois sei
que a vida no passar da própria trama esnoba a graça
de teu Salão de Sombras
que fundiu as nossas almas
antes de vossa triste partida

Como um mendigo a se cobrir de chagas
Mas acima das benções e das pragas
Assim te espero, ó estrela que brilha
Em minha vida, assim espero
A mesma chama no dia de minha ida


(Marco Antônio Cordeiro de Melo)





MARCOS INFINITOS
(Ao meu pai prof. Waldemar Cordeiro)


Teu olhar já tão distante
de retinas fatigadas pelo tempo
Tua musa envelhecendo e envelhecida
pelo passar da idade, essa fria e
Verdadeira Sombra que nunca falha
“Irmã-Prima da morte”

Te sinto todos os dias como se você
Estivesse caminhando comigo nas ruas
Florestas infindas e mares imagináveis
Teu semblante cálido como o de todas as
rosas simbolizando paz, só me faz
recordar...

Como foi mágico caminhar contigo
Pelo mar, naquela noite de céu estrelado
Lembra-te!
Estarei contigo até o fim dos meus
Dias, e caminharemos juntos pela
Eternidade
Brincaremos com as estrelas e
Jogaremos nossos versos para a
Humanidade



(Marco Antônio Cordeiro de Melo)







HEMODIÁLISE

Os dias sombrios de agulhadas
Transpassam as minha carne
Infeccionando o meu sangue e veias

Os ponteiros de todos os relógios
são agulhas, necrologicamente com agulhas
infeccionadas pelo tempo

Tempo de adiamento
Planos... sem sucessos
de uma vida sem futuro
perspectivas para o nada
e tembém sem livramento

Tempo-semente de falta
horas infindas, ócio
que faz vida eterna jejum...
Esperando o momento...

Na máquina o amor revoa, revoa
Sonho com Siboney, minha musa
única musa
ave de lugar nenhum


(Marco Antônio Cordeiro de Melo)




MESTRE
(A Waldemar Cordeiro)


Vi um vulto de artista num beco escuro
era um poeta que ardia na febre das paixões
caminhando e hibernando por ruas sem muro
jorrando versos ao vento como os vulcões

Vi um semblante moço, uma ânsia de vida
nas noites ardentes com mulheres delirantes
nos êxtases sôfregos, nas serenatas & liras
nas orgias embriagadas de carícias palpitantes

Vi um poeta navegar nas espumas da poesia
Entregue ao cigarro, à bebida pelos feitiços de Siboney
Numa caravela à deriva nos subterrâneos da Boemia

Vi cabelos brancos num rosto envelhecido de um Rei
Em cujo peito, encharcado pelas frustações dos sonhos
Escorriam lágrimas cálidas
Sangradas de seu olhar tristonho

(Josessandro Andrade)-1989



CARRO AGÓNICO

(In memorian do mestre Waldemar Cordeiro)



Palavras-plático
misturadas de dor
Asfalto solitário
angustia
abismo
vivo.
Milhares de poemas
caem nas entranhas da Terra.
Germinando novo pântanos
Sapos com cérebros
pulam no mangue.
Dormes no Salão de sonhos
bem em cima
da imortalidade
O corvo de Poe
anuncia Siboneis
in(can)descentes
aqui a cidade
agoniza saudades
por ti.


(Flávio Magalhães)





NA MORTE DE WALDEMAR CORDEIRO


I


Agora o inferno é um cenário
estampado num céu morto
e a poesia é um simbolismo em luto
e a saudade uma águia seqüestradora
a nos atirar no ventre vazio
da tristeza dos abismos

Todos os anjos-demônios de Rimbaud
Todo o ranger de dentes dos gatos de Baudaleire
São os gemidos fúmebres
Das bestas humanas que
Vieram rejar a orquestra
De trevas que uiva
O concerto dos Caos

II

Me vi Rei sem súditos
me vi poeta sem bar
me vi sozinho num mundo
como a poesia sem Waldemar

Brasa momentânea de um instante eterno
desejei ter uma pedra na cabeça
desviar o fogo e morrer




(Josessandro Andrade)





DÉCIMAS PARA WALDEMAR

O céu da nossa cultura
opaqueceu seu luzeiro
porque Waldemar Cordeiro
já está na sepultura
Uma ótima criatura
e professor excelente
nosso povo descontente
diz tristonho a lamentar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

Chora todo Moxotó
pois tem razão de chorar
por professor Waldemar
que já se transformou em pó
Desde a bisneta a avó
cada um no peito sente
um aperto diferente
capaz de fazer chorar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

Foi professor e poeta
querido em nossa cidade
no campo da amizade
foi um verdadeiro atleta
ser bom amigo era a meta
com seu gesto sorridente
Hoje toda cidade sente
a sua ausência sem par
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

O professor Waldemar
Cordeiro com humildades
visitou várias cidades
mas sempre voltava ao lar
Foi um pai exemplar
educador competente
foi pra nunca mais voltar
O professor Waldemar
deixou saudades pra gente

(Manoel Soares Sobrinho)

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