segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AS FESTAS DA RUA VELHA








AS FESTAS DA RUA VELHA

(Josessandro Andrade)

“Na Rua Velha a liberdade

Onde fincava pião

Na Ponteira da Saudade

Olhos de Padre Aragão

Teatrinho de brinquedo

Meu fantoche de papel

Sem assombração nem medo

Fiz minha torre de Babel

Mirando da Pedra Grande

Vê-se a torre da matriz

Rabo de peixe de flandre

Academia de giz

Pelas teias da lembrança

Tempos que não voltarão

Rede que dança e balança

Asas da imaginação”.

Esta composição de meu primo e amigo Antônio Amaral, que é cantada por ele no nosso Show poético-musical “Água Fria de Alagoa de Baixo”, Brinda-nos com uma pequena mostra do universo de encantamento que emoldura a Rua Velha,
Onde tudo começou em nossa Terra. Compreendendo a Praça Amarão Lafayete, a Rua Sete de Setembro, ele praticamente se estende de forma afetiva a outras artérias vizinhas, como a Travessa Albuquerque – Né, a Rua Álvaro Barbalho e a Rua de Juá, que fazem parte da região metropolitana que a circunda e bem mais que em um bairro inteiro se constitui. A Rua Velha com suas ricas vivências, com suas memórias políticas e pujança econômica e cultural, a Rua dos primeiros Mercado, Feira, Escola e biblioteca, de tantos poetas como Ulysses Lins, Luiz Pintô, Hamilton Rodrigues, Wilson Freire, Antônio Amaral, Walmar, Walter Amaral, Luiz Pinheiro, Flávio Magalhães, Corsino de Brito, de tantas musas, serenatas, amores, segredos, preces, paixões e ideais.

Pois bem, não é de hoje que a Rua Velha vem sofrendo um processo de degradação física e cultural, desde a agressão a seu patrimônio histórico com a derrubada do Coreto, passando pela destruição de vários casarões ou descaracterização de fachadas. Acharam pouco! Agora investem a violência (sim, pois falta de respeito também o é), contra o que restava do Patrimônio Imaterial: as festas da rua velha.



“Quem subiu prá Rua Velha

Sem fazer calo no pé

Não chupou abacaxi

Nem se embebedou em Pé

Não esquentou a fivela

Agarrado com Zabé

Lá no forró do Mercado

Não conhece Arrastapé”.



Digo isto porque Dezembro chegou e com ele as festas da Padroeira, Natal, Ano Novo. A Rua Velha, (que na verdade foi o ventre onde Sertânia ganhou a vida), durante mais de cento e cinquenta anos serviu de palco glorioso destes festejos famosos.



“O Juju de Zé de Carocha

Rodava feito Pião

A onda de Pedro Tito

Subiu mais que Avião

Carrossel de Chico Padeiro

Roncando no meu terreiro

Nos Oito da Conceição”.



A festa da Padroeira de velhos tempos e distintas épocas, contada e cantada nos versos de Quatro poetas de gerações diferentes: Antônio Amaral, Cieudes Brasiliano, Anacleto Carvalho e Bartolomeu Brasiliano, resgata a poesia do baú de infâncias perdidas, o movimento das ruas, os costumes, as barracas, as comidas, o Pastoril, os leilões, os fogos, os brinquedos dos parques de diversões, as bandas de música, as cavalhadas, os bacamartes, pífanos da Orquestra de Sons Populares, num relato carregado de emoção singular de cada um, mas que se encaixam para compor um grande mosaico de coloridas e doloridas saudades.



“Na festa da Padroeira

Era isso que se via

Cachaça, forró, folia,

Botecos pras bebedeiras,

Meninos espavoridos,

Fazendo grande alarido,

Ao tropel das correrias

Dos carrosséis esquecidos”.

A canção "7 e 8 de Dezembro", Que a maioria das pessoas chama de "A Música da Rua Velha", É Um Arrasta-pé épico com melodia de Heuris Tavares, gravada em 2000, na voz de Daniel Medeiros (um artista dos mais telúricos de Sertânia e de formação religiosa evangélica). Quando toca levanta o povo, povo canta, povo dança, se emociona, assim como quando ouvia os sacudidos frevos? De- Rua de Francisquinho, com a sua clássica? Batalha de Confetes? Nos carnavais da Orquestra Marajoara, quando ainda existia América E.C.



“Cavalhada e Pastoril

Até leilão existia

Na calçada da igreja

Até o Padre bebia

E matutada brincava

Até manhecer o dia”.



Evoco estas reminiscências justamente a pedido de uma vasta gama de pessoas perplexas com o fim da festa da padroeira de Sertânia. Soubemos até que alegaram que o que acabou foi a festa profana e não a festa da padroeira, como se uma pudesse existir sem a outra ou estivessem desassociadas depois de mais de 150 anos de convivência em Alagoa de Baixo e em Sertânia.

Mas pergunto onde foi que acabou a festa profana? Sim, porque ela continua acontecendo no calçadão da igreja, com várias barracas, que vendem mercadorias e produtos com exclusividade de negociar para a paróquia. Dói, constrange e revolta saber que a igreja que fala tanto em defender a pobreza, quantos pais de famílias pobres deixou proibidos de ganhar um dinheirinho, comercializando nas barracas que tradicionalmente se colocava para vender maçã melada, abacaxi, rolete de cana, gengibirra, xerém com galinha, cachaça, sorvete de raspa-raspa, bolo de mandioca, tendas de jogo, juntamente com as novenas, os balões, as procissões e foguetório, enfim tudo que construiu um dia esta festa. Como é que se acabam tradições de mais de cem anos da vida de uma cidade, sem conhecer a história e a realidade dela e todo mundo aceita, se cala e consente. Pecam por omissão!

Desta forma, podemos concluir que a igreja foi egoísta, uma vez que passou a monopolizar o comércio da festa e ainda mais sob o argumento de que pratica tal ato em nome da casa do Senhor, pois diz-se que é para ela o que é arrecadado. A festa ficou mais profana ainda, pois o altar sagrado onde se deve exclusivamente pregar a palavra de Deus, é usado para autoridades e políticos fazerem discursos, com direito a fogos de artifício e tudo mais.

É muito fácil evangelizar dentro de uma igreja. Em um templo, até um pistoleiro comporta-se bem, diz-me o poeta Zenilton, do Alto do Rio Branco. No entanto, o desafio é evangelizar fora da igreja. Por isto que muita gente está afastada do catolicismo, que já não atrai os jovens. Eles com sua irreverência e criatividade são avessos aos excessos de prepotência, bajulação e purismo sem consistência. E não são eles que não querem vida espiritual, pois apesar de católico, tenho uma filha que frequenta uma igreja evangélica e lá mais de 50 jovens e adolescentes uniformizados dirigem o culto com Datashow e telão, pregam , apresentam-se em banda, teatro e coral, num clima de muita alegria e entusiasmo. E nossa Igreja católica, que só olha para seu umbigo, egoísta, acomodada e sonolenta. Envelheceu e não seu deu conta.

Neste clima de inquisição, proibiram até o Parque de Diversões de Severino Amador, um dos maiores entusiastas da festa da padroeira (Parque de Diversões Imaculada Conceição), que já fazia parte do folclore das festas de Dezembro na Rua Velha. Tivemos conhecimento inclusive que D. Edileuza Estima, esta pessoa formidável, grande educadora e artista de Sertânia chegou a ser maltratada. Onde é que nós estamos minha gente?

Convém ressaltar e parabenizar a ornamentação Natalina feita pela Prefeitura Municipal, bonita e organizada, constituindo-se numa novidade que dá um clima de Natal a Rua Velha, como coração da cidade. Coisas novas que poderiam conviver com as tradições. Este é o costume do mundo civilizado, principalmente dos países de primeiro mundo e não um substituir o outro, como aqui se faz. A destruição da memória e tudo que ela possui em nome de algo, que ainda não se sabe o que é no caso aquilo que chamam de moderno em arquitetura, em música e na vida clerical.

No final do Ano, principalmente para o povo da zona rural havia todo um ritual de preparação para o Réveillon: vinha – se de cavalo, de carro-de-boi, a pé, de caminhão para receber o ano novo. Duval Brito, nascido no Riacho Verde, hoje morando em Paulo Afonso – BA e Luiz Wilson, oriundo do Recanto, hoje radicado em São Paulo-SP, ambos poetas, compositores e meus primos, vieram em 2009, no dia 31 de Dezembro, para relembrar velhos tempos e amanhecer o dia nas barracas, tomando cerveja, vendo a festa. Frustração deles e vergonha minha. Nem parque, nem barracas, nem gente, a Rua velha parecia um imenso deserto ou um povoado fantasma.

Até Quando?

Por: Josessandro Andrade

inédito e sensacional: Artesão portador de necessidades especiais produz obras incríveis







Imagine o camarada nascer com as duas pernas amputadas do joelho prá baixo e numa das mãos ter dois dedos colados. Na outra ter apenas uma bola de carne pendurada. Isso há mais de cinquenta anos atrás, em plena zona rural de Sertânia. O seu futuro seria certamente pedir esmolas, ser sustentado por algum parente ou esperar uma aposentadoria do governo.

Severino Romeu de Melo, Biu da Fazendinha, não aceitou essa que poderia parecer sua sina. De uma família de gente inteligente e estudiosa, os Patu, de Roberto Patu, Rosali Patu, Rômulo Patu (essa reserva moral e cultural de nossa terra), Álvaro e Tota Góis, Biu foi autodidata já na alfabetização.

Aprendeu a ler sozinho em folhetos de cordel. Aos poucos começou a produzir suas peças utilitárias e estéticas: marreta, figa, depois carro-de-boi, bode, casa-de-farinha. Aos poucos tomou coragem e foi comercializando no Posto Rodoviário de Cruzeiro do Nordeste. Passou a vida mantendo o seu sustento desta forma.

Biu tem uma relação com o artista mineiro Aleijadinho, que mesmo com necessidades especiais, produziu esculturas maravilhosas nas cidades históricas. Biu, artesão especial, nascido e criado no Sítio Fazendinha, próximo aos coqueiros, cria suas obras a partir do imaginário do homem sertanejo do Moxotó, o seu entorno.

Biu é uma figura, já foi boêmio, tomador de cerveja e meio farrista. Fala bem, conversa articulada, gosta de ler e de boa música. Filiado ao PCB – Partido Comunista Brasileiro, mas, quase não fala sobre política. Seu terreiro mesmo é arte, inspiração, Sertão.

Biu Aleijadinho é mais uma das joias que Sertânia tem escondidas, mas que precisam ser descobertas e exibidas para orgulho do nosso povo, por ser de uma cidade de poetas, escritores e artistas.

Marcos Cordeiro ganha Prêmio Elpídeo Câmara com História do Cão do Piutá




O escritor, poeta , contista, dramaturgo e artista plástico Marcos Cordeiro , filho do poeta Waldemar Cordeiro e de D. Iracy Gomes venceu pela 4ª vez o Prêmio Elpídeo Câmara, da Fundação de Cultura Cidade do Recife, que premia anualmente o melhor texto teatral. Anteriormente Marcos já havia ganho o mesmo prêmio em anos anteriores com "Nação Pernambuco", que conta em versos a história de lutas libertárias do povo de Pernambuco, " Capibaribe do sol ",(2003) narração da vida de Gregório de Matos em Pernambuco e "Orfeu em África",(2007)onde é contada a experiência do famoso poeta baiano no exílio em Angola, na áfrica.

Agora, Marcos Cordeiro venceu pela 4ª vez, desta feita com "O parvoso e astuto cão do Piutá", uma história que durou muitos anos assombrou a Zona Rural de Sertânia (Coqueiros, Fazendinha , Cacimba de Cima, Riacho Verde, Recanto , Caroá , Algodões, etc). na peça algumas figuras de Sertânia são personagens como o cantador de viola Gato Velho, já falecido e o escritor e poeta Zé Carneiro.


Já há interesse da obra ser adaptada para o cinema e virar filme. A proposta está sendo discutida pelo poeta e cineasta Wilson Freire (Bida) e Marcos Cordeiro, que são primos.

Sertaniense eleito para Academia Pernambucana de Ciências

Antônio Jorge de Siqueira, Doutor em História do Brasil pela USP- Universidade de São Paulo, professor de História da Universidade Federal de Pernambuco, é sertaniense filho de Jorge Siqueira e D. Verônica, da zona rural de Sertânia. Foi orientador do professor e escritor Fernando Patriota, no seu Doutorado na USP. Autor do livro "Sertão sem fronteiras", que lançou em 2011 em Sertânia, na festa de reinauguração da Casa da Cultura, Na Rua Velha.
Antônio Jorge de Siqueira tomou posse na Academia Pernambucana de Ciências, no último dia 15 de Dezembro

, Coroando assim uma longa trajetória-litero-científica, que inclui títulos de Doutor honoris causis de algumas das melhores Universidades do Mundo. Depois do Prof. Gilberto Farias ser escolhido para Academia Pernambucana de Educação, Luiz Carlos Monteiro para Academia Pernambucana de Letras e Artes (a qual nem chegou a tomar posse, pois faleceu) e da premiação (pela 4ª vez) de Marcos Cordeiro no Prêmio Elpídeo Câmara. A Posse de Jorge Siqueira é mais um prova do potencial cultural de Sertânia enquanto terra de poetas, escritores e artistas.