quarta-feira, 28 de maio de 2008

O TREM NÃO APITA MAIS NO LARGO DA ESTAÇÃO
(OU MENINOS DE SERTÃNIA)
ALBERTO OLIVEIRA

- a Manfried Nigro-

I
Lembro da velha estação
Do trem Maria Fumaça
Tudo passa, tudo passa...

II
Levava do nosso chão
Fardos de branco algodão
Colhido pelos roçados
E meus irmãos desnudados
Numa miséria sem fim
Um alvo puro alfenim
Pra vestir encasacados.
III
- Olha o pão doce e gelada
Cocada branca e pretinha
Sanduíche de galinha
Raspa-raspa e limonada!
IV
Os gritos pela calçada
Vulto menino implorando
Com o olhar suplicando
Ao venerável senhor:
-Vai comprar hoje, Doutor?
A mãe em casa esperando...



V
Eram dois, quatro cruzados
O apurado do dia
Suor na face corria
Carão de guardas fardados
Os apitos alongados...

VI
Quem sabe trará mudança...
Desespero da criança
Carreira pra dar o troco
Amanhã é sem sufoco
Restava inútil esperança.
VII
O trem não apita mais
No Largo da Estação...
Somente antiga visão
Fotos de velhos jornais
Não vou esquecer jamais...
VIII
E hoje só recordando
Cabelo branco alisando
A lágrima por fim me sai
Pelo meu rosto me cai
De velhos tempos lembrando...

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