sexta-feira, 13 de junho de 2008

CRÔNICA DE ALBERTO OLIVEIRA CRITICA ENTREVISTA SOBRE POESIA POPULAR

“No caso de Astier, a barra é mais pesada, porque ele canta e é filho de cantador, sobrinho de cordelista de verdade. Não é o intelectual que escreve cordel, e ainda o vende, tomando o lugar do profissional que sobrevive com a família vendendo seus produtos literários”.- Entrevista de Esio Rafael, concedida ao site www.interpoética.com

DIVAGAÇÕES A RESPEITO DE GATOS SIAMESES E LAÇOS FAMILIARES.
Alberto Oliveira
Confesso a vocês que um dos meus sonhos é tornar-me analfabeto, como o foi Pinto do Monteiro.
Vai demorar um pouco, mas um dia eu chego lá...
O epíteto a que eu nunca chegarei, é ser considerado Mestre, a não ser que me apelidem de Mestre de Obras, a nobre profissão de meu pai, Seu Evilázio, que já viajou pro lugar onde se encontram Alberto da Cunha Melo, Jó Patriota, Zé Vicente, Leandro Gomes de Barros, Patativa do Assaré, Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Bernardo Alves e o Gordo, além de muitos outros mais.
Eterno aprendiz, não sou daqueles indivíduos que adquirem conhecimento especializado sobre determinadas áreas do conhecimento humano, nem nunca serei capaz de dar aula a qualquer pupilo. Mestrado, nunca defenderei, mesmo porque a condição elementar para aquele, é ter freqüentado a gloriosa Universidade. Costumo dizer que o pouco que sei, são perduricalhos aprendidos aqui, ali e alhures.
Ontem à noite, Mestre Evilázio veio me visitar.
E me contou de Cantorias divinas e Recitais poéticos maravilhosos que acontecem no Reino do Não Dormir. Enquanto as Cantorias são feitas na bodega de São Pedro, as leituras de Cordéis, via de regra, ocupam a sala de Maria Concebida Sem Pecado.
Diz-me ele, conciliador como poucos, que tenta juntar os dois Eventos. E não consegue.
Falam os mensageiros das duas Manifestações, de irreconciliáveis conceitos e de divergências históricas. E não se juntam...E ficam possessos quando tentam, pelo menos, apelidá-los de primos...
Além de conciliador, Mestre Evilázio também é muito observador.
Falou-me ele de recente reunião ocorrida naquele Reino, para divagações a respeito de diversos assuntos ligados á área da cultura. Sob a inebriante fumaça de charutos.
Acha ele que eram cubanos. Pois todo intelectual que se preza, não dispensa aqueles...
Pelo que falou Mestre Evilázio, um dos assuntos tratados na celebre reunião, girou sobre quem faz Cordel, quando um dos presentes defendeu o conceito de que aquela Manifestação é privativa de quem é pobre, lascado e fudido. A não ser que o remediado seja filho de Cantador de Viola, sobrinho de Cordelista e seja Jornalista. Porque aí o buraco é mais embaixo...Se é que a expressão quer dizer alguma coisa.
Perguntei a Mestre Evilázio quem eram os presentes á reunião. E ele falou-me de Jornalistas, Pesquisadores, Poetas e Poetisas. E declinou o nome de cada um...
Identifiquei entre os nomes citados, a maioria meus amigos, que além de doutores, pesquisadores, jornalistas e pessoas preocupadas com os caminhos / descaminhos da cultura, alguns deles, são também...Cordelistas. Fazem e vendem Cordéis. Num outro patamar do Deus Mercado. Mas fazem e vendem...
Não me falou Mestre Evilázio da ocorrência de qualquer saia justa na reunião.
Acha Mestre Evilázio que qualquer Manifestação – fazer Cordel, por exemplo - possa ser praticada por qualquer um. Desde que se entenda, evidentemente, que para o exercício de fazer Cordel, é necessário o uso do intelecto. Como o usava Leandro, José Pacheco para ficar nos que já foram. Ou Marcus Accioly, para citar um dos que ainda estão no meio de nós...
Entendem vocês agora porque a minha luta em me tornar tão analfabeto quanto Pinto do Monteiro que, ouso dizer, era um intelectual?
Intelectual – (pessoa que usa o intelecto para estudar, refletir e especular acerca de idéias) se for um remediado – fazer Cordel? Nem pensar, conforme o prejulgamento de quem expôs tão estapafúrdio conceito.
Fazer Cordel, pensa aquele, é atividade nobre e só ao intelectual pobre foi dado o sacrossanto direito de exercitar-se no mister.
E quando o intelectual – o remediado – tenta abrir caminhos para o que intelectual – o pobre – conte com um espaço e um processo á disposição de todos, para que as obras e os produtos dos intelectuais pobres cheguem ao público, talvez seja este o seu maior pecado.
Acho que a carapuça me cabe. Gostem ou não gostem do que digo:
Faço alguns cordéis. Vendo cordéis. E abro espaço e negócio para que Cordelistas, Amoladores de Tesouras, Poetas Repentistas, o escambau, contem com a minha humilde missão de aproximar o publico da verdadeira arte do meu povo. Independentemente da classe social deste povo.
Essa divisão de classes é de lascar.
Inventaram a Cultura Popular. Depois a Erudita. E agora chegam ao cúmulo de separar também os intelectuais, conforme suas posses...
Intelectual não é mais reconhecido pelo saber. E aqui não estou falando de bundas sentadas em cadeiras de Universidades.
Agora, o é pelo vinho que toma.
Ou pela cachaça de Santo Amaro das Salinas, fruto dos canaviais, como dizia Zé Vicente, recentemente falecido. Se é que me entendem...
Se não beber aquele e não degustar a outra, tá lascado. Fumar, só se for charuto...
Aconselhou-me Mestre Evilázio a criar um novo Movimento. O PSP. Palestrantes Sem Pagamento.
Eu crio e fico de fora. Deve aparecer muita gente para proferir essas palestras...
A água morna do Recife, está fazendo mal a muita gente. É preciso que ponhamos no fundo do seu mar, algum iceberg. Ou o fogo do inferno. O que não pode continuar é do jeito que está. Tu falas bem de mim, que a gente se ajeita.
Toma um bom vinho ou uma cachaça. E fumamos um charuto. Que ninguém é de ferro...
O danado mesmo é que nós, da Livraria Expressa, estamos programando uma série de cursos destinadas ás Escolas. Publicas e Privadas. As existentes em Boa Viagem e Casa Forte e outras do Ibura de Baixo e do Caçote.
Nome do Curso? CORDEL, O QUE É E COMO SE FAZ...
Por favor me ajudem...A quem devo pedir a permissão para que os Cordéis que forem feitos possam ser vendidos? Não só aqueles feitos pelos filhinhos da Classe A, como também aqueles feitos pelos filhinhos da Classe Z? Posso incluir algum dos meus?
Quanto aos Cordelistas propriamente ditos, nosso endereço: Rua das Creoulas, 322 – Primeiro Andar – Sala 04 – Graças – Recife-PE – CEP 52011-270 – Tel. 81-32315050.
Os caminhos começam a se abrir para a Nau Catarineta. Ainda restam algumas vagas.
E não vamos perguntar se você freqüenta o Restaurante Fasano de São Paulo ou a loca de Comadre Zabé, ali na Prata-PB...

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