segunda-feira, 6 de outubro de 2008

POEMA DE ANTÔNIO BELO

O ELEITOR E O CONSUMIDOR

Tá chegando perto da eleição
Vamos acabar com essa tapeação
Vamos trocar o Título de Eleitor
Pelo Código de Defesa do Consumidor
Ou, substituir o pato pelo chato.
Quem não tem pão,
Cassa com ato.

Na Grécia antiga,
Sócrates não votava.
No entanto, filosofava...
Era contra a “Democracia”
De uns poucos.
Falou até ficar rouco,
Foi condenado a calar,
Forçado a beber cicuta.
Porém, o eco do seu falar,
Ainda hoje se escuta...

No Brasil de antigamente
Pobre e preto não votavam.
E a mulher por sua vez,
Essa nem sequer falava.
E o analfabeto, então,
Nem era considerado
Nas estatísticas do cidadão.

Aí, veio a Democracia!
Veio o voto universal.
“Todos são iguais perante a Lei”;
“Todo mundo tem direito à vida,
Todo mundo tem direito igual”
Votam mulher e menino,
Cachorro e policial,
Prostituta e cafetina,
Juiz e procurador.
Mas só um que paga a conta:
O tal do Consumidor.

PIS, COFINS, ISS,
E um tal de CPF,
Depois CPMF.
O salário do gerente,
E o soldo do soldado,
O Jetom do deputado
E a propina do delegado.
Os custos da eleição,
Incluindo a condução,
Já estão considerados
No orçamento da Nação.

Numa certa ocasião,
O tal do consumidor,
Foi à cabine votar,
Em dia de eleição,
Com uma Nota Fiscal de Compra
De farinha, arroz e feijão,
Mas, sem Título de Eleitor.

Foi barrado logo na porta:
Você não é cidadão!,
Disse o presidente da mesa,
Logo não pode opinar
Nos destinos da Nação.

Logo veio um candidato,
Líder da situação,
Chamou o Consumidor num canto
E disse: preste atenção!
Vou lhe emprestar o título
De um respeitável ancião
Que não teve atestado de Óbito,
Mas morreu de inanição.
Voto certo, de cabresto!
De gente que nunca se opôs.
Em troca, me dê a Nota Fiscal,
Pra eu lançar no “Caixa-Dois”.

O consumidor, no entanto,
Daquilo desconfiou.
Por quê não posso votar?
Eu moro nesse lugar,
Com animus definitivus,
Como diz o promotor.
Sei que a casa não é minha,
Porque não posso comprar,
Mas, o aluguel, eu pago,
Embora um pouco atrasado.
Aliás, eu pago tudo
O que for considerado.

Sei que o voto é obrigatório,
Pagar imposto, também.
Por isso,
Há muito impostor dizendo:
Amém!!!!






É a Constituição
Que garante o meu direito
De votar pra deputado,
Vereador e prefeito.
Por quê essa restrição?
Só porque não tenho o título?
Imposto eu posso pagar,
Não existe apelação.
E o nosso presidente,
Cumpre a sua obrigação?

Tem menor abandonado,
Aluno fora da escola,
- uns até pedindo esmola-
Tem gente sem moradia.
E não é falta de verba!
Pago imposto todo dia.
Dinheiro mal aplicado,
Quando não é sonegado
Através da Nota-Fria.
E o emprego, cadê?
Sumiu na globalização.
Nos arquivos da Internet,
Não há vaga pra peão.

O policial chegou e disse:
O senhor ta muito brabo!
Quero ver se no xadrez,
Vai dar conta do recado.
Você parece “sem terra”
E, além disso, é nordestino.
Ta preso por invasão,
Desacato e desatino...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Por isso, quero dizer,
Ao meu amigo eleitor:
Até mesmo o analfabeto,
É sempre consumidor.
Vote nulo!, vote em branco!
Mas se tiver, vote em preto!
Pois nossa “democracia’,
Ainda tem muitos defeitos.

Nenhum comentário: