POEMA

AS MERCENÁRIAS DO PODER
JOSESSANDRO ANDRADE

ONTEM VI AS BUGAVILHAS QUE ORNAVAM O CORETO
BEBEREM O SANGUE DO POETA E VOMITÁ-LO
NA CALÇADA DA PREFEITURA.

NO CARNAVAL AS PRIMAVERAS VERMELHAS
CHOVERAM NA PRAÇA DAS TAMARINDOS
E EU TIVE PENA DA ROLINHA QUE O TEMPO MATOU

AS MERCENÁRIAS
JÁ TIVERAM SEUS PALCOS E PLATÉIAS
HOJE DECADENTES & INFELIZES,
NO ACONCHEGO DE MARTINES E CAMPARES,
COMO MULHERES QUE DÃO PENA,
LUTAM PELO ÚNICO AMOR QUE AS SUSTENTAM:
AS TRINTA MOEDAS QUE TRAÍRAM O CIRISTO,
O VIL METAL , AQUELE, QUE SEGUNDO NÉLSON RODRIGUES
COMPRA ATÉ AMOR VERDADEIRO,
EM SÍNTESE ESTÉTICA DA MÁQUINA DO PODER.


AS MERCENÁRIAS TRAZEM NA BOLSA,
A RECEITA DE CARÁTER,
ONDE O PODER
É A FELICIDADE SUPREMA,
MAS ANDAM COM BOLSOS RASGADOS,
POR ONDE DEIXARAM ESCAPAR AMORES SUBLIMES,
PELA LEITURA MÍOPE
E ANDAM ÁS CEGAS POR ISTO.

O “A” AO CUBO:
NENHUMA UTOPIA LHES MOVE
NENHUMA PAIXÃO LHE FERVE
NENHUM PRAZER LHE TOCA
PARA ELAS O MUNDO É A LATA DE MERDA
QUE INSISTEM EM MOSTRAR EM NOSSOS NARIZES
PARA ELAS TODOS FAZEM MERDA
COMO OBRA DE UM FISIOLOGISMO NATURAL
E POR ISSO DEVEMOS TODOS
NOS TRANSFORMAR EM MERDA
EM PÓ , LÍQUIDA OU GASOSA,
DEPENDENDO DA EXIGÊNCIA DE MERCADO
A NOS DITAR A FORMA FECAL.


QUEM DÁ MAIS?
QUEM DÁ MAIS?
QUEM DÁ MAIS
É O PODER!!!

DOU-LHE UMA!
DOU-LHE DUAS!
DOU-LHE TRÊS!
VENDIDA PELO PRIMEIRO CARGO OFERECIDO
VENCIDA PELA ÚLTIMA NESGA DE FIM DE GOVERNO
VENDEDORA DO LEILÃO DE SI PRÓPRIA
VENCEDORA DE FAVORES E BENESSES
PEQUENINOS E SUJOS, MAS INSUFICIENTES
ATÉ PARA TROCAR OS MÓVEIS DA SALA
QUANTO MAIS O SONHO DO CARRO PRÓPRIO

É SEMPRE ASSIM
QUEM SE VENDE VALE MENOS DO QUE RECEBE
QUEM SE VENDE PAGAM MAIS DO QUE ELA MERECE

MUITO MAIS ARTÍSTICAS ERAM AS DAMAS DA NOITE
QUE SUSTENTAVAM A DIOCESE DE PESQUEIRA
QUE SUSTENTAVAN A PARÓQUIA DA CONCEIÇÃO.

HAVIA POESIA EM SUAS NOITES TELÚRICAS
HAVIA ALMA EM SUAS VEIAS LÍRICAS

COMO SÃO TÃO FRACAS AS QUE SÓ QUEREM O PODER