domingo, 16 de agosto de 2009

POEMAS DO PAINEL DA CASA DO POETA






O Inverno

Ulysses Lins



Quando às chuvas mensageiras
de um inverno promissor
Veste-se o parado de verde
O Sertão rebenta em flor
O sertanejo cantando
Esquece as dores passadas
Sentindo o cheiro da terra
E as primeiras trovoadas

Ah! Como é grato então ver-se
Transfigurado o Sertão
Todo campo festejando
A sua ressurreição
Corre o gado pela várzea
Muge o touro em desafio
E as águas descem cantando
No fundo leito do rio







Nas lagoas transbordantes
Piam marrecos boiando
Na queimada esturra a ema
E os socós passam grasnando
Lindas aves multicores
Na mais doce orquestração Soltam trinados em festa
E é todo encanto o Sertão

É o inverno alvissareiro
Que retorna aminha terra
Trazendo alegria aos lares
A cantar do vale a Serra
Quanta poesia se espalha
No seio da natureza
Nas almas boas e simples
Quanto amor, quanta pureza!

Foi-se a desgraça impiedosa
A tristeza se acabou
Até que enfim no infortúnio
Do Sertão Deus se lembrou
Hoje nas casas humildes
Do sertanejo inocente
HÁ festas, riso e cores
Ao som da viola gemente!

*Ulysses Lins de Albuquerque nasceu em Sertânia-PE, em 09/05/1889 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 29/12/1979. Poeta , memorialista , autor de quinze livros, foi membro da APL- Academia Pernambucana de Letras (APL).











A Incompreensão

(Alcides Lopes de Siqueira)


Por ti recebi flores e pedradas
Fui quase um Deus e errei na terra, aflito,
Levantei vôo em busca do infinito,
Rolei ao chão de mãos ensangüentadas.

Por ti menti, por ti rezei, contrito,
Beijei sorrindo a poeira das estradas
E agora de faces maceradas
Sinto-me igual a um bloco de granito.

Desarvorado e de alma contundida
Compreendo em fim que envenenei a vida
Tudo perdi e tudo abandonei.

E nada fomos um prá outro em suma
Eu , triste vulto a se perder na bruma
E tu a esfinge que eu não decifrei.


*ALCIDES LOPES DE SIQUEIRA nasceu em Sertânia-PE, em 1901 e faleceu em Recife-PE em 1997. Médico, ex-prefeito de Sertânia, Poeta , contista e ensaísta, tendo publicado várias obras.

POETAS GUERRILHEIROS

Família Belo & agregados

AUGUSTO BELO E D.JULIETA


Agitadores, subversivos, revolucionários, como prefiram os conservadores...eles foram acima de tudo idealistas, rebeldes,sonhadores, libertários...e nisso aí sempre bate um coração de poeta...
Nossa homenagem aos que viveram os anos de chumbo e encontraram na poesia a força para Resistir e viver



DE ÁGUAS E DORES DE AMORESDE: ADILSON FREIRE
- A Josessandro Andrade, poeta e filósofo de Sertânia- um extrato de meus amores líquidos_
Eu tenho medo de água
seja de rio ou de amar
A´gua parada ou corrente
que leve ao fundoou à frente
porque eu não sei nadar;
Eu tenho medo de água
inda seja de lavar
lavando leva o perfume
deixa saudade e ciúme
que são coisas de matar;
Eu tenho medo de água
mesmo água de amar
molhando os olhos da gente
ao cair vira semente
Gerando um pé de chorar
Eu tenho medo de água
mesmo em ser de navegar
não tem destino ou lugar
não tem dono e não se entrega,
morre, vive, não se entrega
,aguas de amar e desamar...


ADILSON FREIRE é de Sertânia-PE, foi líder estudantil e professor da Escola Olavo Bilac, além do colégio Comercial de Sertânia. Em 1964, foi perseguido pelo golpe Militar, assim como seus companheiros de geração em Sertânia: João Belarmino,
Zé Andrade, e Os irmãos Belo: Emanuel (Manainho)e Joaquim (Quincas). É
Considerado hoje um dos grandes advogados de Pernambuco. Poeta , tem publicado
o livreto “colheita de luz” (1983).


Vai meu Poema

(Antônio Belo)


Vai meu poema,
Vais correr o mundo
Não importa que te digam
Que és um poema vagabundo...

Desces montanha,
Sobes serra
Pois somente o que se ganha
É o que a verdade encerra:
Se, como disse o poeta,
“Bom cabrito é o que mais berra!”

Vai meu poema,
Pois o tempo urge!

Se uma palavra acaba,
Outra, ali, ressurge...

Passas sobre as catedrais
Passas por baixo da ponte


Sobes rios, desces vales,
Vais anunciar um mundo novo
Mas nunca esqueças a “fonte”,
Que é a Língua do povo!

Vai meu poema,
Que nunca feneças
Ante à tirania
Ou à opressão
Pois se um dia,
Negares poesia,
Que nunca mais
Pises nesse chão!

Vai meu poema:
Voa!
Se não te derem asas,
Mesmo assim,
Teu grito ecoa!

Palmas, dezembro/2007


Antônio Belo( Tonho Murilo) é irmão de Zé Mago. Professor, poeta e visionário.Vive no Estado do Tocantins, em Palmas.


A Estrada
(Joaquim Belo)


Deus projetou minha estrada
Com muitas curvas e retas
Deixou-me exemplo de vida
Para atingir minha s metas

Botou também no caminho
Muita subida e descida
e uma paciência de Jó
Para curar as feridas.

Juntei ao seu meu caminho
Como as águas das três ribeiras
Correndo devagarzinho
Nos lados das ribanceiras

Fizemos das nossas outras vidas
Pra continuar a viagem
Pavimentamos os caminhos
Para espalhar a linhagem

Venci todos os obstáculos
Com garra e persistência
Mas só vou parar a viagem
Quando Deus me der a licença.


Joaquim Belo(Quinca) nasceu no dia 03 de agosto de 1946, Em Sertânia- PE,
Filho de Augusto Belo e Julieta
Januário. Participou do movimento estudantil em Sertãnia-PE e chegou a ser preso na época do golpe militar
De 1964, dentro da Escola Olavo Bilac.
Vive em Belém-PA.



PAI NOSSO DO SERTANEJO
(ZÉ ANDRADE)



Pai nosso que estais no céu
santificado é o teu nome
venha a nós o vosso reino
onde não há dor nem fome
perdoa aquele que odeia
da-lhe um coração que ame

Perdoa os nosso pecados
assim como perdoamos
aqueles que nos desprezam
é por estes que oraramos
que não falte água e pão
por estas coisa clamamos

Abençoa os nordestinos
nesta seca do sertão
dando água que molhe a terra
e os livre da escravidão
que os governos se empenhem
em libertar a nação

Obrigado oh!meu bom deus
esta é minha oração
sou pó formado da terra
sou terra desta nação
meu espírito volta a deus
e meu corpo volta ao chão

* ZÉ ANDRADE NASCEU EM SERTÃNIA , A 03 DE OUTBRO DE 1934, NO SÍTIO BARRA, FILHO DE JOÃO FRANCISCO DA SILVA E JOSEFA LOPES DE ANDRADE.
LÍDER ESTUDANTIL, FOI O PRIMEIRO PRESIDENTE DA UNIÃO DOS ESTUDANTES DE SERTÃNIA., ALÉM DE PRESIDENTE DO GRÊMIO ESTUDANTIL DO GINASIO OLAVO BILAC, QUE ERA O FOCO DO MOVIMENTO DOS ESTUDANTES. LIGADO A FRACISCO JULIÃO, DAS LIGAS CAMPONESAS, FOI O FUNDADOR E PRESIDENTE DA CRC-CENTRO DE REVENDA E COLONIZAÇÃO, QUE VENDIA PRODUTOS E FERRAMENTAS AGRÍCOLAS PARA TRABALHADORES RURAIS A BAIXO CUSTO, CUJA ESTRUTURA CONSEGUIU MONTAR COM O APOIO DE JADDER DE ANDRADE, NO PRIMEIRO GOVERNO ARRAES, EM 1963. COM O GOLPE DE 1964, FOI PERSEGUIDO PELO EXÉRCITO ACUSADO DE “COMUNISTA” E “SUBVERSIVO”. A PERSEGUIÇÃO CONTRA ELE E SUA FAMÍLA FOI IMPLACÁVEL, CHEGANDO INCLUSIVE A PERDER UMA FILHA ELIANE, VÍTIMA DAS PÉSSIMAS CONDIÇÕES DA VIDA CLANDESTINA.PRESO EM PAULO AFONSO-BA , CONSEGUIU A LIBERDADE E RUMOU COM FAMILIARES PARA SÃO PAULO, ONDE VIVEU COMO PROFESSOR ATÉ 1976. DEPOIS REFUGIOU-SE EM MANAUS, ONDE TORNOU-SE BACHAREL EM DIREITO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS, OCUPOU DIVERSOS CARGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS E DESENVOLVEU O MINISTÉRIO EVANGÉLICO BATISTA..
A FOTO MOSTRA COMÍCIO EM SERTÃNIA EM 1963, COM A PRESENÇA DE MIGUEL ARRAES, AO MICROFONE ZÉ ANDRADE, AO CENTRO ZÉ ETELVINO LINS, AO FUNDO DR. RAUL LAFAYTE E WALTER LAFAYETE, QUE FAZIAM PARTE DO PSD E ERAM ALIDOS DO PTB DE MANFRIED NIGRO, ZÉ ANDRADE E JOÃO BELARMINO, QUE ABRIGAVA OS PIONEIROS DA VERDAEIRA ESQUERDA EM SERTÂNIA.


Musa dos Festivais
(Josessandro Andrade)


Tenho desejo ao te ver
No palco flor bailarina
Em compassos de mulher
Com seu riso de menina
Emoldurar tua cintura
Com pétalas de um abraço
Prá no balé das essências
Nos unirmos num só laço
Tenho desejo liberto
De ser pego no flagrante
cartaz do teatro aplaudindo
Teu sorriso aprisionante
Tenho desejo secreto:
uma farra tão oculta
Murmurar-te segredos e escândalos
De uma paixão resoluta
Tenho desejo ao seres
A musa dos festivais
Escrever um novo texto
Pras nossas vidas atuais
Tenho desejo rebelde
De poder meter os peitos
Num romance clandestino
Que será ao meu e ao teu jeito
Tenho desejo devasso
No orvalho de tua boca
De beijar seus seios doidos
Misturando as línguas loucas
Tenho desejo sensível
Sugar as coxas macias
Com seu gosto de cachaça
Banquete que delicia
Tenho desejo ser ninho
Pras nádegas sensuais
Teu ventre gargalhando
no circo de muitos ais
bailando pelos trapézios
Perdido nas arenas fantásticas
depois de mil peripécias
cairmos na cama elásticae ressucitarmos sós
do espetáculo real
já recomeçando a cena
para repetir o final...

Um comentário:

ÍSIS disse...

Casualmente, o google entrou em Sertânia pra minha emoção. Não desliguei mais. Emocionei-me, ao ver um desabafo de minha autoria, inesperadamente. Mas, é isso que da conhecer SERTÂNIA, ela fica impregnada em nosso cérebro e no coração. A casa em que morei, ficava antes do presídio e vizinha a um senhor que fazia queijo e tinha 3 filhas. MIRIAM, NEUSA, não tenho certeza. Mas, prometo, vou te rever. Vou sentar na praça. Vou ao cinema.Vou colher uma flor Um beijo, sertão querido! E o América?Um até logo de ÍSIS TELLES DE CARVALHO PEDROSA.isistellespedrosa@hotmail.
com